quinta-feira, 5 de maio de 2005

Salve sua pele!

Li ontem no caderno Ilustrada da Folha de S. Paulo "O show de horrores nos colégios de elite", do Marcelo Coelho. Destruição crítica de primeiríssima qualidade.

Identifiquei-me porque há algum tempo, e pouco tempo faz que saí do ensino médio, venho me preocupando com a deformação dele, e o pior, do ensino médio privado, caro e chamado de melhor, mas tudo bem, até porque para ser chamado de melhor basta ter piores em comparação. Por isso muito cuidado na hora de classificar as coisas que parecem ser boas no Brasil.
Lembro que há alguns meses vi um outdoor aqui em Curitiba com uma linda morena com aquele "sorriso amarelo" e comercial vestindo uma camiseta que dizia: SALVE SUA PELE! Era uma propaganda de escola. Direcionamento estratégico típico de uma empresa que pensa assim e não quer formar ninguém, quer vender um diploma classificado como melhor.
Voltando ao texto do Marcelo Coelho, creio que nenhuma dessas escolas “incríveis”, com carapuças sob medida, terá mudanças em diretrizes ou planos de atuação nos negócios. Porque vendem, acreditam que são boas e são alimentadas por vestibulares dificílimos que testam candidatos supertreinados para entrarem em universidades caquéticas. Massa crítica? Para que? Parando para pensar no que teremos, e isso é com toda a certeza, sem muito esforço, em uma perspectiva bem pensada ou bem projetada, é uma classe profissional medíocre do ponto de vista humano, social e conseqüentemente (pasmem) econômico. Desenvolvimento? Pelo amor dos nossos filhos! Que modelo de educação é esse? Privado e ao mesmo tempo burro. Para quem não paga é um vazio, para quem paga é um caminho sem volta, uma formação básica de uma sociedade sem base crítica e filosófica, repito: essa é a paga, a privada, a melhor e, no jornal, a que mais aprova.
Onde vão chegar? Com quem vão competir? Globalizados? Caso fizermos a comparação de um jovem "formado" no ensino médio privado brasileiro, que visa a massa aprovada no vestibular e custa caro, a um jovem, espanhol que seja, formado pelo ensino médio público espanhol, teremos uma lacuna que nos afasta de qualquer modelo globalizado de cooperação, interação, conexão, comercialização e do tal desenvolvimento. Enquanto acreditarmos que essa idiotice que esse tipo de empresa ou de gente está desenvolvendo é alguma forma de concorrência ou competição pelo desenvolvimento pessoal e profissional, não vai ter USP ou ITA que nos salve a pele.
Ah! Um amigo meu, o Zé, um gaiato aí, me disse um dia desses que lá no ITA eles fazem projeto de míssel. Vê se pode, esse Zé?!

3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

é verdade. e tudo, tudo depende do ponto de vista.
de onde é que vc tá vendo a situação, né??
mas uma coisa eu digo, o Brasil poderia ir muito além, se os brasileiros todos pudessem ter educação.
a melhor? a melhor dependendo do ponto de vista mais uma vez.
mas uma educação boa o suficiente pra o país melhorar.
e não apenas para constar 'eu tenho diploma'.

beijão Diego.
:)

8:18 PM  
Anonymous Anônimo said...

Eu to que nem a Sabrina do panico: " è verdade. "...... Vc está corretissimo, meu caro. Precisamos de formadores de opniões e conceitos, não de robóticos que sabem responder questões de vestibular. Hj tava pensando aqui na noticia que vi no jornal nacional sobre aqueles trigemios que morreram....... Quem será que era o médico " formado" que estava lá e não se comoveu com tudo o que estava acontecendo. Não precisamos de diplomos e sim de seres humanos verdadeiros!!!!! É isso que penso!!! Beijo no coração!!

1:22 PM  
Anonymous Anônimo said...

Grande Godoy! Antes, parabéns pelo blog e desculpas por só agora riscar por aqui. Depois: isso deu, dá e dará muito pano pra manga!

Tinha lido esse texto do Marcelo Coelho e, há umas três semanas, li no Clarín de Buenos Aires sobre o ingresso no sistema de ensino superior argentino. Lá eles se queixam da "taxa de egresso". Apenas 2 entre 10 universitários chegam a se formar. É um dado alarmante. Mas só pra ilustrar, porque citaram nesse suplemento o Brasil como exemplo de "melhor êxito" na A. Latina devido tanto ao famigerado e "criterioso" acesso via vestibular (que lá está começando a ser adotado e os cursinhos estão vindo com eles) e ao investimento do governo proporcional ao PIB (nessa ordem, o Brasil é quem mais investe na região, mas existe uma dívida histórica). Se quiser depois, salvei as reportagens.

Esse assunto traz à tona muita coisa. A competitividade excessiva do ensino médio forma pessoas cada vez mais desequilibradas, despreparadas para uma derrota e munidas de um "pseudo-conhecimento". Concordo com o Marcelo, há um abismo imenso entre resolver problemas objetivos e aqueles que impõem o pensar, o raciocinar, enfim, aquela contribuição subjetiva que alguém pode dar ao mundo exterior. Isso tem, sem dúvida, um reflexo imediato no ensino universitário. É difícil achar a produção, a originalidade. Quanto não se recria e se diz da mesma ou de outra forma! Uns muitos ainda elogiam o aumento (quantitativo) do trabalho científico no Brasil, mas essa massificação traz qualidade? Quase nunca. Queria muito acreditar que é, pelo menos, um período de transição (e se é, os frutos estão longe de serem colhidos), mas ao que parece, vamos continuar encontrando focos de excelência e um oceano de despreparo. As reformas e projetos educacionais da vida são tão ingênuos que se antes um diploma de curso superior pouco valia, nada irá valer e a incerteza da qualificação profissional será algo endêmico no mercado de trabalho.

Ah, e sobre os "colégios-brigadas" da vida, não sei se você esteve aqui em Maceió numa época que um desses, muito conhecido da cidade pôs seu batalhão de alunos nas provas da federal com camisas camufladas (de guerra mesmo!) e um dizer mais ou menos assim: "não adianta, vou detonar sua vaga"/"sua vaga é minha!".

Aonde chegamos...

10:16 PM  

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