sábado, 30 de abril de 2005

É um negócio da China!

Ano passado, em outubro, estava estagiando em uma empresa que iniciava um projeto de exportação dos seus produtos. Eu fazia parte da equipe de prospecção de novos clientes internacionais. Nós íamos de reunião em reunião com comitivas e representantes de países interessados em negociar com o Brasil.
Até que um dia recebemos o convite vindo da FIEP (Federação das Indústrias do Estado do Paraná) para uma esperada reunião com empresários chineses. Os tão interessantes, promissores e "novidades" no mercado internacional. Lembro que o dono da empresa quando soube da reunião ficou entusiasmado e propôs a sua ida conosco ao encontro que seria com os membros de um órgão parecido com uma federação das indústrias da Província chinesa de Sichuan.
Chegamos cedo a FIEP, sentamos, estávamos ansiosos, quando chegaram todos. O vice-presidente da FIEP fez um discurso introdutório e apresentou os representantes chineses, a intérprete mandarim-português e todos nós, empresários e representantes de empresas brasileiras. Notei, estranhamente, que os chineses pareciam flutuar em uma piscina de água fria em um dia de inverno.
Uma apresentação sobre o Paraná foi feita por um membro da diretoria da FIEP e traduzida pela intérprete, que em certos momentos teve de recorrer à ajuda de um chinês sentado entre todos nós (naturalizado brasileiro e o dono de uma empresa que exporta, entre outras coisas, a Cachaça 51 para a China), logo depois uma apresentação sobre Sichuan foi feita por um rapaz de no máximo 25 anos, chamado "Robby", traduzida também pela intérprete.
Ao fim das apresentações, dos cortejos formais, vieram as perguntas aos empresários sobre o interesse em produtos vendidos e comprados, pelos presentes. A reunião logo virou uma feira. Ficou mais claro ainda para mim a sensação da flutuação dos chineses quando eu me senti flutuando também. Existia ali um empecilho incrível que travava a nossa relação, o idioma. "Robby" era o único entre os dezoito membros da comitiva de Sichuan que falava inglês, macarrônico, mas falava. Nós não tínhamos outra chance que não tentar falar através do rapaz ou pedir auxílio à intérprete, o que virou uma bagunça naquela disputa de atenção de mascates. O highlight da reunião foi um dos dezoito chineses que distribuía seu cartão de visita sem a versão em letras ocidentais.
Saí de lá sabendo algumas coisas: que a China pode e deve ser um mercado incrível; que aprender mandarim não é um apenas upgrade que vai nos deixar mais interessantes para negociar, não, falar mandarim é o único modo de fazer negócio com a potência que não sabe e pelo jeito não vai saber falar inglês; que mandarim é uma língua muito diferente de qualquer uma das que costumamos ter contato.
Um curso de mandarim? "Torre de marfim? Reserva três pra mim." Millôr Fernandes