sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Pobre bom senso

As eleições terminaram e os resultados são surpreendentes. Uma virada histórica aconteceu. Não em números, mas em comportamento.


No dia do resultado das Eleições presidenciais em que fomos comunicados de que a candidata Dilma Rousseff (PT) havia sido eleita acompanhei pelo Twitter a tão falada avalanche de citações destiladas como veneno contra nordestinos e nortistas. É como quando Barack Obama foi eleito presidente dos EUA, brancos xingando negros, pessoas iguais que se acham diferentes.


A questão aí é que “o buraco é bem mais em baixo”. Poderia citar a elite torta desse país que ainda sonha com a Exclusiva Corte Portuguesa, mas esse é outro assunto. Falemos do ocorrido em si. Moradores das regiões Sul e Sudeste fizeram uma campanha sugerindo que se “faça um favor a São Paulo, mate um nordestino afogado” ou ainda as inúmeras vezes que publicaram que “O Sul é meu país”.


Pois bem, a notícia que tenho a lhes dar é que o proposto é impossível. Em primeiro lugar a sugestão de “matar um nordestino afogado” é crime. Chama-se preconceito e está regulada pela lei número 7.716/1989. Caso comprovado o fato, o réu estará sujeito a pena de 2 a 5 anos de prisão.


Em segundo lugar a afirmação de que “O Sul é meu país” é ao mesmo tempo impossível e estúpida. Desculpem a franqueza. Impossível pois a separação das unidades da federação não se deu em nenhuma das revoluções já ocorridas com esse fim e por hoje ser protegida pela Constituição Federal. Estúpida porque quem entende um pouco de economia sabe que mesmo sendo economicamente menos desenvolvidas que o Sul, as regiões Norte e Nordeste são os mercados consumidores e fornecedores de maior força aos estados do Sul e Sudeste, ou seja, uma aduana entre esses dois “países” seria mais vantajosa ao Norte e ao Nordeste a princípio. Além do fato de vermos no Sul e no Sudeste um crescimento exponencial dos votos de partidos populares com propostas populistas, o que prova que isso não se deve a origem e sim a educação dessas pessoas.


Discutir problemas em geral com agressividade e raiva, transfigurada de preconceito e um falso teor intelectual é primitivo. Nenhum problema se resolve brigando, muito menos algo tão sério quanto a política de um país como o Brasil.


Aos que se julgam superiores pela sua origem ou opção democrática, sugiro que coloquem a mão na consciência e avaliem sua superioridade. Seria ela real? Seria ela útil? Certamente estarão confusos e perdidos em meio a uma jogada de marketing eleitoral. Pobre bom senso, foi esquecido.


Publicado no Jornal Gazeta de Alagoas de 06/11/2010