sábado, 19 de abril de 2014

Carta ao meu amigo Pedro

Meu querido amigo Pedro,

Hoje ao ler a notícia do assassinato cruel e frio do seu pai, senti um misto de revolta, tristeza, medo e vontade de fugir.

Em primeiro lugar, eu sinto muito, muito mesmo. Porque imagino que esse assassino não tenha a real noção do estrago que causou, tirando da convivência de vocês o pai da família. Sinto porque me coloco em seu lugar e imagino isso acontecendo com o meu pai, comigo, com você, com outras pessoas que conhecemos e amamos, ou que nem conhecemos. Isso me deixa com muito medo. Um assassinato para lhe tirarem uma coisa, um roubo estúpido e fútil.

Talvez isso tudo se torne banal em pouco tempo para os que não perderam o pai, como você, pois afinal, neste país os assassinos dos seus pais não serão presos, nem mesmo identificados, os números não mentem.

Esses assassinos que tentaram roubar seu pai não sabem o que fizeram, eles tiraram a paz de muita gente. Talvez sem perceber que não eles também não tem paz. Talvez tenham crescido num meio em que uma bela camisa polo vale mais que uma vida. Matar assim é muito fácil.

Pedro será que ninguém vê que os valores dessa sociedade estão todos errados? Que uma geração inteira não teve educação, não recebeu amor e por isso mata por qualquer coisa? E coisas não substituem sentimentos nem pessoas. “Money can’t buy me Love” – já cantaram os Beatles. E não compra mesmo, mas para provar isso, é preciso reeducar nossas pessoas, mostrar a elas que não são escravas de um sistema opressor de trabalho, que não precisam ter medo de ser miseráveis.

Pedro até quando vamos sustentar esse poder público que não pensa no povo, dá esmolas para erradicar a pobreza e os mantêm dependentes, sem orientação, sem educação, sem filosofia, sem moral, sem nada, e por vezes vê na selvageria de matar para roubar, a única saída para os problemas?

Deu pra ti, baixo astral, vou morar no Canadá, Tchau!

Pedro é um nome fictício para não expor meu amigo.