quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Coitadinha da Peppa Pig

Eu e a tevê temos um caso de amor. Semprei gostei de tevê, mas sempre foi mais um namoro adolescente do que um casamento. Nunca dormi com uma no meu quarto, sempre ficamos pela sala, no máximo em viagens de férias ela dormia comigo no hotel, mas voltando para casa era cada um no seu lugar. Quando nos encontrávamos era na sala.

Mas a tevê é uma delícia. Gostosa muitas vezes, em outras esbarrávamos na mesmice de uma longa relação e nada de novo e interessante nela numa sexta à noite. Vínhamos bem, numa relação morna até nascer a minha filha, que por minha influência, se apaixonou pela Peppa Pig e teve como sua primeira palavra “pêpa”. Antes de papai ou mamãe, só deu ela, a Peppa. Estou aqui para defende-la, não a minha filha, mas a Peppa.

Li em diversos perfis do Facebook e em alguns artigos de psicólogos, médicos e professores que a Peppa é uma péssima influencia para os nossos filhos. Por ser mandona, às vezes cheia de birra, ela formará crianças mandonas e cheias de birra. Ela não seria um exemplo a ser seguido. Eu não concordo com isso. Primeiro que acho a Peppa muito querida e educada, segundo a Peppa talvez seja a primeira personagem em anos, depois de uma era em que existia o malvado Pica-Pau e o traído Popeye, a mostrar a vida como ela é, cheia de crianças mandonas e cheias de birra. Até o pobre Papai Pig foi atacado, como um “estereotipo sexista do pai que trabalha e não se envolve com a família”. Coitado do Papai, ele nada mais é do que o espelho da maioria dos pais de família brasileiros, ingleses, alemães e et cetera que somos, sempre fomos e sempre seremos (e queremos ser).

Eu lembro que quando era pequeno, era comum ser conduzida uma experiência caseira em que se colocavam 3 ossos de galinha num copo americano cheio de refrigerante. Cruelmente, em alguns dias esses ossos eram corroídos pelo líquido malvado, negro e capitalista. Esse mesmo líquido horrível iria corroer nossas entranhas ao bebermos refrigerante e morreríamos definhando. Ora! Quem parar e pensar nunca viu ninguém ser corroído por refrigerante, o mal está em bebe-lo demais. O excesso pode causar obesidade e problemas gástricos que podem causar problemas de saúde, mas nossos ossos nunca foram diluídos, até porque não dormimos embebidos numa banheira de “refri” e nossos ossos são mais fortes que os de galinha (ainda bem para ambos).

O paralelo aqui é para que todos que pensam que a Peppa vai destruir ou prejudicar seus filhos, para mim a verdade é que isso não é real. Talvez o excesso de tevê nos adoeça, assim como o excesso de qualquer outra coisa. É preciso ter medida, dar essa noção aos pequenos, explicar como são fabricados os refrigerantes, o que são os desenhos animados e a sua diferença perante “vida real”, isso é educar. A escolha hoje é nossa, mas amanhã será deles. Banir a criança de assistir algo ou fazer qualquer coisa de forma impositiva é inútil, um dia ela vai crescer e vai provar tudo o que lhe foi proibido, e sem saber direito o porquê, sem conhecer o objeto e sua medida, talvez acabe dormindo numa piscina de refrigerante assistindo uma maratona de um desenho animado vintage chamado Peppa Pig. E vai ficar tudo bem, papai, tudo bem.