O protesto de Martin Konrotea no festival de cinema
Era uma vez Martin Konrotea,
nascido na Ilha de Timbuktu, arquipélago de Ubuntuaka.
Martin faz parte da terceira
geração de uma família de artistas de Timbuktu. Seu avô iniciou a família como
um dos maiores intérpretes da música típica da ilha, seus tios e pai fizeram
carreira como ator, cineasta e músicos, já Martin foi além, ainda adolescente
foi para a Europa estudar artes cênicas. Voltando ao arquipélago, fez sucesso
ao atuar como protagonista de filme épico baseado em um texto milenar da
cultura timbuktuana. O longa-metragem foi traduzido para diversos idiomas e o
canal que o produziu fez fortuna em Ubuntuaka com as vendas dos direitos.
Logo vieram os convites para
Martin voltar à Europa, onde filmou curtas cult,
depois alguns filmes mais comerciais na França, até que chegou à Hollywood! Que
sucesso! Martin virou o orgulho de Timbuktu. Era o queridinho dos estúdios! Seu
avô até então com fama restrita ao Oceano Índico, se tornou um músico famoso,
agora cultuado por músicos pop da Europa, Ásia e Américas.
Martin se tornou estrela, se
naturalizou americano, comprou uma casa em Los Angeles, casou-se com uma atriz
sueca, teve 3 filhos americanos. Mas seus traços fortes, sempre lembravam a
todos sua origem ilhéu. Exótico, chegou a ser indicado ao Oscar quando dirigido
pelo grande Robert Smithson.
Em meio aos ups and downs da sua vida artística e pessoal, Martin virou um símbolo
intelectual, não só americano, mas dessa mescla cultural que congrega
tantos artistas e pensadores vivendo o American
Way of Life, talvez ainda a única grande ideologia do século XX em
funcionamento.
Martin se divorciou, casou mais 2
vezes, mudou para Nova Iorque, onde conheceu Lisa Belt, uma jazzista low-profile, professora da Macbeth
School of Arts, com quem se casou pela quarta vez.
Timbuktu ficou distante, a nova
geração já pouco conhecia o outrora símbolo e orgulho do arquipélago, que
passava por um momento de caos. O governo havia criado um rombo nas contas,
estragando a economia de todas as ilhas de Ubuntuaka, deixando milhares de
desempregados, parando a Indústria, atrapalhando investimentos no Turismo e
transformando um paraíso em um lugar perigoso e espinhoso para todos, turistas,
investidores e habitantes.
Ao mesmo tempo em que assistia ao
seu país entrar num caos completo, Martin foi lembrado pelo já consagrado
cineasta Udo Strauss, com quem filmou um belíssimo filme em Timbuktu que falava
justamente sobre a decadência da ilha, mas com olhar minimalista, discutiu e
expôs a hipocrisia do arquipélago elitista e classista, agora mergulhado em
conflitos entre ricos e pobres, esquerda e direita, liberais e socialistas. O
filme de Strauss toma força pela forma certeira como atinge o alvo, afinal
todos querem saber, todos querem entender o caos que vive hoje Timbuktu.
Martin aparece no topo das listas
de entrevistados, volta à CNN, BBC, The New York Times.
Exótico!
Maravilhoso!
Atuação impecável!
O filme é indicado ao Grand Prix de
Toulouse! Martin Konrotea retoma seus tempos de glória e está de novo nos
tapetes vermelhos do Cinema!
Maravilhoso!
Na avant-premiere de Toulouse,
Martin e Strauss, estão emocionadíssimos e ufanados de si protestam contra os
rumos que sua Ilha de Timbuktu está tomando.
Um jovem ilhéu orgulhoso vê o
nome de seu arquipélago no palco do mundo, e pergunta a sua mãe:
- Quem é Martin Konrotea, mãe?
- Um homem que acha que é daqui, meu filho.
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