sexta-feira, 14 de março de 2008

O Brasil vai ganhar o grau de investimento. Mas e daí?

O jornal britânico "The Guardian" publicou hoje um suplemento sobre o Brasil. Mais, sobre a estabilidade atual e o promissor futuro da economia brasileira. Esse é mais um grande sinal de que existe grande chance de ser atingido o grau de investimento (investment grade) até o fim de 2008 por aqui. Mas e as empresas brasileiras? Nossas organizações estão dispostas e prontas para essa desconhecida realidade? Parece assustador, mas não é.
Resumidamente, grau de investimento é a nota dada a um país por agências internacionais como Standard & Poor’s e Moody’s classificando o mesmo como capaz de pagar suas dívidas interna e externa. A maior vantagem de obter essa nota é que o país se torna capaz de captar empréstimos e financiamentos externos de forma mais barata, ou seja, com juros menores e melhores condições de pagamento. Esses recursos obtidos no exterior aumentam o fluxo de capital significativamente, impulsionando investimentos diretos e aquecendo o consumo. Investidores internacionais, incentivados pela classificação, buscam boas oportunidades e dessa forma são aumentadas as chances de se obter investimentos externos.
O crescimento dos IPO’s no Brasil e o aumento das fusões e aquisições nos últimos dois anos são exemplos claros do crescimento da economia brasileira e da onda de internacionalização que seguem as empresas brasileiras. O que as organizações locais começam a vislumbrar é a necessidade de estarem enquadradas dentro do contexto econômico atual, conectadas às exigências de mercado, em todas os aspectos de uma empresa. Muito se discute desde a criação da lei Sarbanes-Oxley em 2002, que nasceu a partir dos escândalos corporativos envolvendo grandes conglomerados e empresas de serviços profissionais, levando os padrões de governança corporativa a serem revisitados e questionados. Tá, mas e daí? O que eu tenho a ver com isso?
As discussões de grau de investimento, investimentos externos e governança corporativa parecem estar muito distantes de nossa realidade como profissionais, mas o efeito que esses fatores podem causar em nossa economia transformará nossas atividades econômicas e consequentemente empresariais. Venho percebendo que nos últimos anos quando a empresa em que eu trabalhava procurava profissionais nas áreas de compliance com Sarbanes-Oxley, consultores de governança corporativa e análise de riscos (risk management) tanto o contratante quanto o potencial contratado buscavam entender assuntos de algum tipo de conhecimento que parecia muito distante e mais complexo do que os que possuíam em suas experiências profissionais, e nós funcionários éramos forçados pela realidade de mercado e necessidades de nossos clientes a termos contato e estudarmos assuntos muito novos com pouquíssimas coisas publicadas sobre o assunto, muitas vezes somente a legislação ainda não aplicada na prática. Isso demonstra claramente como o efeito dessa nova face da economia em que o fluxo de capital toma alta velocidade pode nos ser desconhecido e exige dos administradores, economistas, gerentes, diretores, enfim, os profissionais envolvidos diretamente com as organizações que entendam e discutam as novas formas de trabalho e gerenciamento de suas empresas em níveis estratégico, tático e operacional. Só nos resta entender para acessarmos as oportunidades de trabalho que surgirão no mercado, pois com a influência desses investidores estrangeiros e seus recursos aplicados em grandes agentes transformadores da economia local como infra-estrutura, por exemplo, faz com que o conhecimento necessário a ser aplicado nas empresas tende a ser muito parecido entre o utilizado em um resort em Maragogi e um banco em Nova Iorque.
Foto: EPA/The Guardian (www.guardian.co.uk)