quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Presunto fatiado

Segundo a Wikipédia, vantagem competitiva é a vantagem que uma empresa tem em relação aos seus concorrentes.

Minha namorada e eu íamos para minha casa jantar e paramos em uma padaria perto para comprar pães e alguns frios. Essa, uma padaria mais cara do que as outras. Costumo ir lá porque é a única da região que fatia o presunto na hora, o que é extremamente importante para a minha namorada e imagino que para muitas outras pessoas. Paga-se mais caro pelo presunto, que é sempre igual em todas as padarias, porque ele é fatiado na hora da compra. Mas chegamos tarde.

Já passava das 21h40 (o estabelecimento fecha às 22h), e detalhe: quando nós dois percebemos que iríamos conseguir chegar lá antes das 22h ficamos felizes da vida, porque iríamos ter tempo hábil para pegar alguns gramas de presunto e queijo. Fatiados na hora. Mas como escrevi, já passava das 21h40. Quando pedi para a moça do balcão que fatiasse 100 gramas de presunto, me disse taxativa e negativa: "Eu já lavei as máquinas". Ou seja, não teríamos o presunto como minha namorada gosta, teríamos de nos contentar com aquele presunto fatiado há terríveis três horas e meia, descansando e murchando em uma bandeja de isopor sufocada em um balcão refrigerado apinhado de provolone, presunto, copa e peito de perú. Fomos embora sem nada e decididos a comer outra coisa.

Me toquei que aquela padaria linda, cara e cheia de coisas finas não serve pra nada se não tiver presunto fatiado na hora. Todo o investimento em balcões, geladeiras, fornos, móveis e iluminação, além dos dias investidos em recrutamento e seleção, treinamento em atendimento, cursos de panificação em algum SENAI ou SENAC da vida, uniformes feitos pela melhor costureira de Curitiba, tudo, absolutamente tudo, pode ser jogado no lixo sem o presunto fatiado na hora.

Quantas empresas perdem clientes e mercado porque não investem no que realmente são boas? Quanto dinheiro é jogado fora investido em coisas que não são percebidas pelos seus clientes como seu diferencial, como a sua vantagem competitiva em relação aos concorrentes? É claro que toda a alegoria de decoração é necessária para que a vantagem competitiva seja identificada pelos clientes, mas manter essa diferença perante seus concorrentes parece ser o maior esforço que deve ser feito pelas empresas, e mais, identificar qual realmente é seu diferencial é tarefa complexa e definida pelo cliente e não pelo empresário. O comércio existe para o mercado, dizia Fernando Pessoa em outro século. Até por isso que esse papo todo me parece velho, mas é fácil de esquecer, e não lembrar disso todos os dias, desde o empresário até a moça do balcão é fatal para o sucesso ou não dos negócios, sua manutenção e crescimento.

Já são 18h15, e vou correr para comprar um presunto fatiado na hora para agradar minha namorada antes que a mocinha lave as máquinas. Tchau!

3 Comments:

Blogger Adeodato Volpi Netto said...

Diego,
Basicamente minutos após seu artigo, passei em um supermercado no caminho de casa. Eu estava com minha esposa no carro (grávida de 8 meses). Parei lá porque ela queria tomar O SORVETE. Lembramos que estava difícil de encontrar em outro lugar! Ainda bem que deixei-a no carro esperando, afinal a fila do caixa prioritário, acredite, em cronometrados 26 minutos atendeu somente 2 pessoas.
Aí vem uma coisa chamada "experiência da marca". Como cada cliente percebe sua experiência quando em contato direto com qualquer marca.
Neste mercado, não volto mais, nem que tenha que mudar o caminho de casa!
Amanhã dividimos uma pizza com vitamina!!!
Abraços

AVN

10:37 PM  
Anonymous Marcello Guedes de Castro said...

Nos deparamos como exemplos como esse todos os dias. Erra o empregado ao não esperar fechar a loja para lavar os equipamentos, e também erra o patrão, ao relaxar quanto à organização de seu negócio. No Brasil, joga-se fora milhões de dólares investidos em marketing e arquitetura por pura displicência na gestão das empresas, que tem origem lá atrás na péssima educação que até mesmo os gestores receberam. Os funcionários, coitados, são os vetores do constrangimento; não podemos esquecer, entretanto, que a falta de preparo dos empresários brasileiros é a que faz todo esse dinheiro ser desperdiçado. Ser empreendedor no Brasil, muito embora seja uma escolha louvável, fundamental para o desenvolvimento da nação, quase nunca inclui reflexões sobre planejamento e qualidade, apenas visa cegamente ao lucro, com consequência catastróficas para toda a sociedade.

11:09 AM  
Blogger Unknown said...

Olá Diego,
É isso! Gente, sorriso e atenção é que fazem a real diferença. A dimensão humana dos serviços é algo que precisa estar sob monitoramento constante. Acho que vale à pena tentar contar para o dono da padaria. Se ele não ligar, desligue você. Abraço.

2:45 PM  

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