Vágner Love e você, tudo a ver

Quando foram publicadas as imagens que mostram Vágner Love chegando a um baile de alguma favela carioca sendo escoltado por homens armados, mais uma vez agradeci por ser um jornalista frustrado. A imprensa se mostra indignada por um jogador de futebol que nasceu no Rio de Janeiro ir a uma favela e assim ser escoltado.

Por favor, alguém explique ao jornalismo que a sua opinião fantasiada de notícia não serve a ninguém. Não se sabe se é uma demonstração de que a forma de organização social comandada por um poder paralelo nas favelas deve ser reavaliada, ou se é simplesmente uma nova imagem de algo incrível, no sentido de crer.

Acredito que o maniqueísmo não seja o caminho e muito menos um meio de comunicação engajado, mas o jornalismo como é não serve para muita coisa além de servir as massas como forma de criticar uma situação que parece alheia a suas vontades, deveres, direitos e principalmente sociedade. Questionar a forma como essa imprensa não expõe os fatos e os mostra de uma forma que exclui cada vez mais as pessoas da realidade, dando uma noção de que como não se sabe ao certo se é uma critica ou uma mera notícia, faz com que inconscientemente todos concluam que certamente isso não faz parte de suas vidas. Sendo que na manhã seguinte, semana seguinte, mês seguinte ou algum tempo depois, seja surpreendido pelo mesmo fato bizarro que viu na televisão em sua própria vida. Então não entenda mais nada, afinal, até a última vinheta do telejornal, ela estava tão distante de homens escoltados entrando em uma favela para dançar funk.

Uma boa dose da realidade como é, se faz necessária, não em filmes, não em peças de teatros, mas em uma página de jornal, em uma notícia na televisão. Afinal é para isso que servem as notícias. Noticiar o que aconteceu de verdade, nada mais que a verdade.

Vágner Love é um jogador de futebol e “subiu o morro” para uma festa, disse ontem a imprensa que vai evitar as favelas. Porque neste momento deve estar se perguntando se está certo ou errado em fazer o que fez. Se compara aos milhares de brasileiros que eventualmente freqüentam lugares comandados por poderes paralelos como o tráfico de drogas no Rio de Janeiro e se sente preso. Ao invés de mostrar que algo está podre nesse modelo de sociedade e pessoas como os próprios editores do telejornal e habitantes de bairros nobres freqüentam locais como o escolhido por Love para se divertir, os coloca numa vitrine se excluindo para vender mais jornais e alienar a todos do intuito de discutir soluções, como se estivéssemos longe do que cada vez fica mais perto de todos, inclusive do Vágner Love.

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