terça-feira, 19 de agosto de 2008

O quadro de medalhas é uma besteira

O quadro de medalhas é uma invenção da imprensa. Não existe e nem nunca existiu quadro de medalhas feito pela organização dos Jogos Olímpicos. Isso significa apenas uma coisa, que não existe vencedor por país nas Olimpíadas. O quadro é repetido por todos os países e celebrado por seus órgãos que administram as equipes olímpicas que competem nacionalmente. Cada um com seus recalques, eu aqui com os meus e eles lá com os deles, sendo um tanto humano e caindo na mesmice de guerrear entre países, nações, povos.

A China ganhou mais medalhas que os Estados Unidos, que ganhou mais que o Reino Unido que ganhou mais que a Alemanha que ganhou mais que o Brasil que a Zâmbia e assim sucessivamente. Sim, tem uma correlação quase perfeita com o desenvolvimento econômico, mas não é no maior evento esportivo do Mundo que só acontece a cada quatro anos que alguém prova para outro alguém que tem uma política econômica mais inteligente. Nesses Jogos incríveis vemos por raros momentos todos os povos juntos, mesmo que alguns julguem hipócrita, é exatamente este o motivo das Olimpíadas, exercitar, através de atividade muito visceral, o esporte, a humanidade.

É falso, não hipócrita, e quem cospe nisso cospe no Homem.

Foto: Mercedes Chilla, da Espanha, finalista do lançamento de dardo em Pequim 2008/REUTERS

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

FERNANDA JÁ MORREU

(Puxe o fôlego) Que tal se... Que tal se (comece a chorar) amanhã pela manhã na hora que você acordasse, Fernanda, você pegasse todo esse monte de dinheiro da sua conta corrente, sacasse, fosse em uma agência de viagens, comprasse uma passagem para algum lugar bem interessante, voltasse para casa, arrumasse a sua mala, ligasse para a sua mãe, explicasse para ela que você decidiu viajar, sacou o dinheiro que tinha no banco, criou coragem para fazer o que sempre quis fazer, fugir desse emprego do cacete que você arranjou, ganhando esse salário que cresce em função exponencial, agüentando essa gente que não quer nem saber quem você é, nem nunca vai saber, afinal você não está a fim de contar, ligasse para o escritório e avisasse o chefe do departamento de recursos humanos, pedisse demissão por motivos pessoais, e se alguém mais próximo do escritório lhe perguntasse o que você está fazendo ou o porquê dessa decisão assim tão precipitada e impulsiva, você respondesse que nem você sabe ou que não é da conta dele, que tal?
Fer, você lembra quando a gente estava indo para a casa da sua mãe e parou para jantar num restaurante meio antigo e você pediu um... (já pode rir) um prato com salada e eu um bife com batatas fritas, saímos de lá e continuamos a viagem falando de uma loucura sua de querer que eu abrisse a cabeça para certas coisas, e eu indignado com aquele papo mandei você se foder e disse que já tinha aberto a cabeça para coisa mais produtiva, mas você não entendeu e mandou eu me foder antes porque eu era pudorento e ignorante?
Não sei mais o que lhe dizer. Esse seu choro tem muito a ver com a minha vida também. É uma fase muito complicada essa, a adolescência já se despede, mas ainda não nos sentimos definidos o suficiente para ser adultos. Quero agora que você vá para casa, quando terminarmos, durma o máximo que puder e tente relaxar. Senão fica muito difícil de você cumprir o que tinha acertado. O seu potencial é válido, mas ainda não consigo ver resultados reais. Precisamos acertar nossos ponteiros. Por favor, repense a situação de forma crítica. Seja mais você. Um dia você me entenderá. Um dia eu lhe entenderei. Vá. Pode ir.
Senta aí. O pensamento é um pouco lunático (pode começar a rir), mas você vai gostar. Eu penso em criar uma forma em que se desenvolva opinião e crítica, o que falta. O homem sempre procurou usar o que tinha de recurso e nunca em utilizar o que tinha dentro da cabeça. Imagine se nós já tivéssemos desenvolvido uma forma de fazer os cachorros opinarem sobre o que é ser vivo ou não para eles que farejam tudo? Seria incrível, não acha? Teríamos uma ciência paralela que serviria para questionarmos a nossa existência como seres. Nós ainda não sabemos criticar, Fer! (boceje) Não sei se você me entende, mas acho que deu para começar a explicar o que é a minha proposta de trabalho, mesmo que você nunca me leve a sério porque não me entende em noventa por cento das vezes que nos falamos, mesmo na nossa amizade. Que é linda, não acha?
Você voltou depois de tanto tempo para me colocar contra a parede. É um absurdo eu sentir essa culpa pela sua situação. Quem me perguntou foi você. Eu respondi clinicamente, como podia responder. Não me culpe, mas me desculpe. Não lhe chamei de louca, disse o que você queria e precisava ouvir para sair por cima. Tome isto. Esqueça tudo. Volte amanhã.



Texto enviado para a OFF FLIP 2008, categoria Conto

Sem título de 03 de agosto de 2008

Andando, ontem ou um dia não sei das quantas
Me dei conta que subi às tamancas
Quando um amigo me disse "te mancas"
"Senão te arrependes lá pelas tantas"
Eu me flagrei que a vida é mais que finanças