segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Gostos e desgostos

Hoje vou comemorar com a minha mulher que uma infiltração foi resolvida na nossa casa. Vamos tomar uma champagne e comemorar que não pinga mais água do teto. A graça da vida está nisso pelo jeito, e tem muita graça mesmo. Você vive a vida comemorando "coisas pequenas" que parecem grandes problemas, difíceis de ir além. São grandes e pequenas. Maravilhosas coisas.

E quando você está ali vivendo parecem martírios, pesadelos sem fim. Aí passa, comemora-se o fim, o recomeço após esse problema e a vida segue. No futuro você lembra daquele dia e sente uma estranha saudade, um misto de nostalgia com algum amargo sentimento que sentiu.
A primeira vez que percebi isso foi ao ouvir as pessoas contando de suas viagens. Os trechos nos que mais gastavam tempo eram os problemas que haviam passado na viagem. Carro quebrado, visto vencido, dor de estômago e noite dormida na praça eram lembrados aos risos e contadas em detalhes. As flores e os lindos jantares eram bem comentados também, mas muito mais rapidamente.
Você um dia vai vibrar ao ver seu cachorro fazer cocô depois de 2 dias sem fazer, vai chorar ao inaugurar a churrasqueira de tambor na casa de praia que ainda não está pronta. Pobre de quem passa pela vida sem sentir esses desgostos e gostos posteriores.
"Vai, vai, vai, vai amar / Vai, vai, vai, vai sofrer / Vai, vai, vai, vai chorar / Vai, vai, vai, vai dizer" - trecho da música Canto de Ossanha, de Vinícius de Moraes