domingo, 6 de fevereiro de 2011

Quem tocará tantas obras?

Em todas as revistas de negócios e de carreira se lê há algum tempo que o mercado brasileiro sofre com um “apagão de talentos”. Falta de especialização, poucas escolas, más escolas, poucas oportunidades, baixa taxa de empreendedorismo planejado e outras razões levaram a esse problema.

Particularmente o atual cenário brasileiro no mercado de construção civil deve sofrer um grande impacto quando se deparar com a falta de engenheiros civis, ou pior, engenheiros civis que não entendem absolutamente nada de construção e nem tem interesse no assunto. Por anos a profissão foi relegada a um segundo plano e o “boom” da indústria pegou o mercado desprevenido. Não existem profissionais com conhecimento em obras em número suficiente para administrar as obras que o Brasil tem programado para os próximos 5 anos.

Existem hoje bons engenheiros civis de nível sênior, com mais de 5 anos de experiência em obras, mas são poucos e com uma remuneração bastante elevada por terem se tornado profissionais raros devido a ausência de planejamento na educação voltada a essa indústria.

A equação não é simples e requer planejamento, mesmo em crise, algo que o empresário brasileiro, sobretudo da construção, está acostumado a viver, é preciso preparar os formandos e recém-formados, recrutá-los no momento correto e investir em capacitação. Essa será a chave para abrir a porta que o país precisa passar para se transformar em um país desenvolvido. Assim como para mão-de-obra básica em que se enfrenta a questão da falta de pedreiros, serventes, marceneiros, mestres-de-obras, dentre outros.

O correto recrutamento, feito por especialistas no assunto junto aos investimentos público e privado em qualificação prática desses profissionais de níveis básico, técnico e superior criará um ciclo virtuoso em que tanto a demanda de mercado por novos empreendimentos será alimentada por novos empreendedores que nascerão desses grupos quanto terá na oferta desses mesmos profissionais a base para que a indústria cresça de forma sustentável e atraia crédito na medida em que mostrar potencial do próprio crescimento.

A atração de crédito, principalmente de investidores de longo prazo, os conhecidos fundos de private equity, são motivados pelas melhores oportunidades, essas mensuradas entre risco e retorno. A pequena quantidade de novos engenheiros e a relação de oferta de profissionais contra sua demanda causam um outro problema, perdemos boas oportunidades de investimentos na indústria para nossos irmãos emergentes, principalmente a China.


Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP); e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Dados do INEP e do IPEA mostram que formamos aproximadamente 47 mil engenheiros por ano quando o ideal seriam 80 mil com a economia como é hoje (aproximadamente 7% de crescimento do PIB), ou seja, o crescimento deve ser em escala para que em 2022 alcemos o nível ideal.

Alguns setores, impactados mais rapidamente pelo crescimento como transportes, tem praticado aumentos de até 70% para engenheiros de nível operacional em suas atividades principais, como por exemplo manutenção de ferrovias.

A alternativa de formar profissionais certos para cada negócio e dentro do ambiente organizacional, passa por uma mudança excepcional de cultura, em que as empresas precisam realmente saber que a inversão entre existir mais vagas que profissionais é e se tornará cada vez mais drástica e inversa. O crescimento da economia e de um setor tão importante como o da construção civil está limitado a atrair bem e reter certo.