sábado, 4 de julho de 2020

DONA S. E OS COOKIES

(conto baseado em fatos reais contados por um amigo que não quis ser identificado)

Em uma quarta-feira as 18h decidi fabricar cookies. Eu odeio cookies. Talvez porque trabalhei numa padaria em que eu passava 14 horas por dia misturando e assando cookies.

Fiz uma bandeja com mais ou menos 16. Misturei manteiga, açúcar, ovo, fermento, pedaços de chocolate meio amargo, não gosto de gotas de chocolate prontas, elas vêm com chocolate hidrogenado que é um lixo e faz muito mal para a saúde. Demoro aqui de propósito para falar do açúcar mascavo que não pode faltar na receita, mas é ele que faz esse doce ser péssimo e óbvio.

A diarista, dona S., chegou na quinta-feira cedo. Saí logo em seguida. Voltei as 17h30, dona S. já havia saído. Lembrei naquele momento que havia esquecido de levar o almoço durante o dia. Dona S. havia comido todos os cookies. 16. Penso que pode ter levado alguns para os filhos. O que ninguém sabe, nem deve saber, é que os cookies levavam um pouco de cannabis, eram “space cookies”.

Dona S. nunca mais voltou. Liguei no dia seguinte para saber se estava tudo bem e se ela tinha conseguido chegar em casa depois de alguns cookies mágicos. Ela me disse que sim, não comentou nada sobre os efeitos, mas nunca mais voltou.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

A morte

A morte é uma pessoa que chega numa festa, vestida de branco ou de colorido. Avista as pessoas, escolhe quem vai consigo. Não é bem-vinda aos que estão na festa, mas sempre aparece sem ser convidada.

Nunca pede permissão para entrar, muito menos para sair. O mais mágico é sua presença no ambiente. Enquanto ela está ali, todos sabem, todos sentem, todos a veem, mas ela é tratada como errante. Talvez tenha vindo até a festa errada, mas ela não erra endereço, dia e nem a dança, e como dança!

Enche o ambiente com sua presença, causando um desconforto secreto em todo mundo. Não tem quem não a veja, até as crianças antes de falar já sabem que ela está ali, pois fala alto, dança majestosamente zombando da nossa falsa insensibilidade.

No momento em que sai pela porta da frente levando um dos convidados consigo, nos deixa deprimidos e ocos, mas secretamente ficamos aliviados com aquela tensão causada pela falta de nexo da sua presença indesejada e ao mesmo tempo sabida e há muito tempo esperada.

Leva consigo a tensão, a ansiedade, mas em troca, leva alguém. Crua, bate na nossa testa e diz em um olhar: estou apenas fazendo meu trabalho.

Boa viagem!